Não escrevo há muito tempo, mas agora sinto a necessidade de pôr um ponto final a histórias que aqui contei. Tu és uma delas: com muitos capítulos escritos aos soluços, com rabiscos e folhas rasgadas de repente e depois remendadas com toda a minúcia, na esperança pateta de ter uma página imaculada de novo. Não mudava nada. Minto, mudava qualquer coisinha para favorecer o meu orgulho se fosse uma questão de bater palmas e pronto. Como não é, não mudava nada.
Agradeço, agora, por me teres esgotado ao ponto de ser obrigada a olhar para mim. A não conseguir fugir do que andava a evitar - a sensação imensa de subfelicidade, de um contentamento aparente com migalhas. Há um tempo para acontecer, para passar do que poderíamos ser para o que somos. Ficamos nesse limbo, comigo suspensa na promessa que um dia ias olhar-me e querer ver-me, em vez de ver o teu reflexo em mim.
Disse-te que, quando menos esperasses, perdias-me. Acordavas e não ia estar ao teu lado. Sem explicação, sem aviso. Essas razões não são previsíveis ou discutíveis, agora que pedes palavras. Agora que me pedes, mais uma vez, que não me dê uma oportunidade a mim para ta dar a ti. Agora sou eu quem doseia palavras e te pede uma última coisa: deixa-me ir.
Levo comigo tudo o que aprendi e me deste. Deitei fora alguns dos momentos menos bonitos, tenho de escolher bem o que guardo e escolho ficar com o que me faz querer-te bem. Não já por nós, mas por ti. Por mim. Sem qualquer esperança pateta. Com a folha rasgada, amarfanhada nas minhas mãos e um sorriso.
Deixa-me ir.